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Neste artigo, o doutor em Ciências Históricas Kirill Nazarenko conta a história do famoso navio de Jack Sparrow, a Pérola Negra, e analisa seu possível protótipo histórico. O historiador também examina as características do navio no jogo "Pirates of the Caribbean" e fala sobre o Holandês Voador.

Olá! Hoje a história será sobre a Pérola Negra. Claro, todo mundo assistiu a Piratas do Caribe e sabe que Jack Sparrow, o protagonista do filme, navegava no navio Pérola Negra. O navio teve um destino extraordinário. No início, chamava-se “Slutty Wench”, depois foi afundado, e Jack Sparrow fez um acordo com o demônio do mar, Davy Jones, que ergueu o navio do fundo do oceano e o transformou em algo impressionante.

É claro que o navio do herói de um filme popular precisa ter uma aparência incomum, então a Pérola Negra é toda preta, com velas igualmente negras. E, mesmo estando rasgadas, isso não impede o navio de ser extremamente rápido.

Navio de Jack Sparrow: “Pérola Negra”

Se analisarmos o aparelhamento, veremos que se trata de um navio tradicional com três mastros e velas redondas, típico do início do século XVIII.

Não vemos a verga de bujarrona (blind) nem o mastro de topo, mas no geral é uma fregata normal. O fato de ter remos que podem ser estendidos pelo convés inferior — isso realmente existiu, mas não em navios oceânicos. Houve até uma classe de fragatas à vela e a remo utilizadas em rios grandes e em áreas de fiordes e arquipélagos do Mar Báltico.

É conhecido que entre 1770 e 1790 existiram várias fragatas a remo na frota sueca. A Áustria também possuía uma flotilha no Danúbio, que incluía ao menos uma fragata desse tipo.

No entanto, em fregatas marítimas, remos eram extremamente raros. Eles apareciam com mais frequência em navios de menor porte.

Um exemplo famoso é o brigue “Mercúrio”, que lutou contra dois navios turcos mais fortes durante a guerra russo-turca de 1828–1829. Quando o vento diminuiu, os remos foram usados por orifícios especiais entre as portas dos canhões.

Quanto à artilharia, durante todo o século XVIII as fragatas tinham, no máximo, canhões de 12 libras no convés inferior e canhões de 6 libras no convés superior aberto — e isso era considerado mais do que suficiente.

No século XVII, podiam ser instaladas peças ainda menores. No início do século XIX, com a invenção das carronadas — armas curtas e leves — as fragatas passaram a carregar carronadas e canhões longos de 24 libras.

Carronada

Carronadas não tinham longo alcance, e a velocidade inicial do projétil era baixa porque a carga de pólvora era reduzida. Elas eram instaladas em um suporte giratório, que podia se romper se a carga de pólvora fosse muito forte.

Mas justamente por causa da baixa velocidade causavam enorme destruição em curta distância e disparavam muito bem balins (metralha).

Sobre as mecânicas do jogo, na minha opinião, em “Pirates of the Caribbean” o poder da artilharia é exagerado, para tornar as batalhas mais rápidas e divertidas.

Na realidade, batalhas de artilharia entre navios à vela eram lentas e cansativas, e afundar um navio apenas com canhões era difícil. Era mais fácil incendiá-lo ou derrubar seus mastros.

As tripulações raramente estavam completas, e um navio normalmente podia operar apenas um dos bordos com plena eficiência. Disparar de ambos os lados reduzia drasticamente a cadência de tiro. Em navios piratas ainda havia menos homens disponíveis.

Em Sea Dogs: New Horizons, a tripulação do navio é de 428 homens — mas uma fragata real do século XVIII tinha cerca de 150. A Pérola Negra do jogo tem 324 homens, o que também é excessivo.

Pérola Negra na versão “Corsairs: New Horizons”

A versão desenhada da Pérola Negra é bastante boa. A forte curvatura do convés era típica dos navios do século XVII, mas foi diminuindo durante o século XVIII, conforme melhoravam as técnicas de construção.

A galeria de popa também é bem visível — era onde ficavam as latrinas dos oficiais. A latrina da tripulação ficava na proa, sob o gurupés.

Pérola Negra no filme “Piratas do Caribe”

A versão cinematográfica — com névoa e esqueletos — apresenta velas rasgadas, mas o casco é semelhante. No entanto, 26 canhões longos de 24 libras é armamento demais para um navio desse porte.

Existe a teoria de que o pirata Henry Morgan possuía algo parecido com a Pérola Negra, mas não há provas históricas confiáveis disso. O nome “Pérola Negra” também não corresponde aos nomes típicos do século XVII. Piratas preferiam nomes irônicos como “Queen Anne’s Revenge” ou “Slutty Wench”.

Morgan possuía dois navios: Merchant Jamaica e Oxford. O segundo era uma fragata real.

Figura de proa do navio

No século XVII e XVIII, quase nunca se escrevia o nome do navio no casco. A maioria dos marinheiros era analfabeta; portanto, os navios eram identificados pela figura de proa.

Marinheiros eram extremamente supersticiosos. Apesar do ditado “mulher a bordo dá azar”, mulheres estavam presentes em navios grandes. No navio sueco “Vasa”, foram encontrados restos de cinco mulheres.

Havia também crenças como assobiar para chamar o vento ou evitar assobiar durante vento forte para não atrair tempestades. Em caso extremo, acreditava-se que espetar um punhal no mastro fazia o vento soprar.

Pérola Negra e Davy Jones

Em “Piratas do Caribe”, os marinheiros acreditam no demônio marinho Davy Jones, que guarda as almas dos marinheiros num baú no fundo do oceano. Alguns acreditavam ser possível fazer pactos com ele.

A lenda do Holandês Voador diz que o capitão vendeu sua alma para conseguir contornar o Cabo das Tormentas, mas ao quebrar a promessa, sua alma e as de sua tripulação foram condenadas a vagar para sempre pelos mares.

A Pérola Negra claramente se inspira nessa história, já que Jack Sparrow também fez um pacto com Davy Jones.

Quanto ao aspecto espiritual, nos navios procurava-se ter um sacerdote e um local para orações. Navios espanhóis e portugueses carregavam cruzes católicas nos mastros. Entre protestantes, o capitão podia conduzir cerimônias na ausência de um padre.

Pérola Negra de Jack Sparrow

No final, vale mencionar a simbologia. A bordo da Pérola Negra tremula a clássica bandeira pirata com caveira e ossos cruzados. No cristianismo, esse símbolo representa vida eterna — a caveira de Adão sob a cruz do Calvário.

Os piratas usavam esse símbolo para mostrar que eram imortais e que não valia a pena enfrentá-los.

Esperamos que este artigo tenha sido útil!

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