
Você está lendo um material preparado durante o desenvolvimento do simulador de vida pirata Corsairs Legacy pelo estúdio Mauris, com o objetivo de popularizar o tema marítimo e, em especial, os jogos de piratas. Você pode acompanhar as novidades do projeto em nosso site oficial, no canal no YouTube e no Telegram.
Neste artigo, o historiador Kirill Nazarenko explica como as batalhas navais realmente aconteciam e, usando como exemplo um combate específico do jogo Age of Pirates 2: City of Abandoned Ships, avalia o nível de precisão histórica do gameplay.
Eu gosto muito do jogo Sea Dogs. Joguei bastante — ele é visualmente bonito, possui uma mecânica de comércio muito bem desenvolvida e apresenta de forma excelente o colorido mundo do Caribe. Além disso, os navios são bem detalhados, e em alguns momentos é possível observar lindos pores do sol e fenômenos naturais durante o combate.

Navios em Age of Pirates 2: City of Abandoned Ships
O jogo é dinâmico — as batalhas duram apenas alguns minutos, o que satisfaz o jogador. No entanto, do ponto de vista histórico, é possível levantar várias críticas.
O jogo “Sea Dogs” lembra — na minha opinião — o clássico “AGE of SAIL”, que também simulava muito bem as batalhas da era dos veleiros.
Mas, ao falar de observações e críticas, começaria pelo fato de que a velocidade aumentada necessária para a dinâmica do jogo contradiz a realidade das batalhas navais travadas entre o final do século XVII e a primeira metade do século XIX.
Essas batalhas eram lentas e arrastadas. A velocidade de um bom navio veleiro era cerca de 10 nós (aproximadamente 18 km/h). A média ficava entre 2–4 nós (ou 3–7 km/h). Contudo, manter 7 km/h por todo o dia permitia percorrer mais de 150 km.
Em terra firme, uma coluna de carroças carregadas alcançava no máximo 20–25 km/h. Por isso, até o veleiro mais lento era mais rápido e carregava muito mais carga, exigindo muito menos pessoas para sua operação. Daí vem a enorme importância do comércio marítimo.

Navios em Age of Pirates 2: City of Abandoned Ships
As batalhas eram longas. Combates de navios veleiros durante as Guerras Napoleônicas ou a Segunda Guerra de Independência dos EUA podiam durar horas — perseguições podiam durar dias.
A manobrabilidade dos navios em Sea Dogs é muito superior à realidade.
No jogo Age of Pirates 2, é possível girar o navio quase no próprio eixo, mas na vida real um giro exigia muito espaço.
Além disso, o vento raramente soprava de forma constante — mudava de direção e intensidade com frequência. Em regiões tropicais havia calmarias e rajadas repentinas. O efeito de sombra do vento próximo às ilhas podia reduzir drasticamente a velocidade. Uma rajada poderia rasgar velas, quebrar mastros ou até virar o navio. Os mapas eram imprecisos, e encalhar em rochedos não marcados era comum.
Também chama atenção no jogo a forma como os danos são distribuídos entre velas, tripulação e casco. O casco de um navio de madeira era extremamente resistente, e colisões quase não o danificavam. Abrir um buraco no casco ao abalroar era praticamente impossível.
Mesmo encalhando, levava tempo até que as ondas causassem um vazamento sério. A espessura do casco chegava a 60–70 cm de madeira em camadas.
Por outro lado, o cordame e as vergas sofriam danos graves. Se a proa de um navio atingisse o costado do outro, era praticamente certo que o bowsprit (botaló) se quebraria — e os destroços podiam derrubar o mastro de mezena.

Age of Pirates 2: City of Abandoned Ships — bowsprit
Quando dois navios se enroscavam pelo cordame, separá-los era difícil até que uma das tripulações vencesse. Assim, abordagens eram extremamente arriscadas.
No Sea Dogs, os tamanhos da tripulação parecem exagerados, assim como o número de baixas. Na realidade, antes de o navio afundar, normalmente morriam ou eram feridos apenas 10–15% dos tripulantes — em casos extremos, 20%.
Houve exceções, como o contratorpedeiro “Steregushchiy”, que perdeu toda a tripulação, mas isso era raro.

Age of Pirates 2 — destróier “Steregushchiy”
Durante abordagens, apenas parte da tripulação participava do combate corpo a corpo — o restante permanecia nos canhões.
Nos veleiros de guerra, o número de tripulantes era maior que nos mercantes: era necessário operar todos os canhões, manusear velas e manter um grupo de fuzileiros para abordagens.
Na prática, navios muitas vezes não tinham a tripulação completa. No jogo vemos duas corvetas lutando — mas uma corveta histórica (navio típico do século XIX) raramente tinha mais de 150 homens. No jogo vemos 200. Mais plausível seria algo como 100 tripulantes.
Além disso, no jogo os danos causados pela artilharia são excessivamente altos. Bombas quase não eram usadas em batalhas navais.
Canhões navais disparavam balas sólidas em trajetória plana. Morteiros eram usados apenas contra estruturas costeiras — atingir um navio manobrando era improvável. As balas ricocheteavam na água, prolongando o alcance.
Bombas tinham risco de desativar o estopim ao tocar a água, e seu uso antes do século XVIII era perigoso — podiam explodir ainda dentro do canhão.

Navios em Age of Pirates 2: City of Abandoned Ships
Para danificar mastros e cordames, usavam-se tiros encadeados (knippels). Mas seu efeito era limitado. Acertar com precisão além de 50 metros já era difícil — a 300–400 metros era praticamente sorte. Ninguém dispararia a 1 km.
Além disso, atirar de um convés oscilante contra um alvo manobrando era extremamente difícil. Em muitos casos, não se ajustava o canhão horizontalmente — girava-se todo o navio para disparar no momento certo.
Se fosse necessário disparar por ambos os bordos, a velocidade do navio diminuía drasticamente, pois a tripulação precisava ser dividida.
No século XVII, os calibres dos canhões eram pequenos: 8–12 libras, e apenas os maiores navios carregavam peças de 24 libras.
A maioria dos feridos era atingida por estilhaços de madeira arrancados do casco, e não pelos projéteis.
Manobras como orçar podiam ser perigosas — iniciar a manobra com pouca velocidade poderia deixar o navio “travado no vento”.
No jogo Sea Dogs, contudo, viradas são simples, e danos ao velame não reduzem a mobilidade como deveriam.
Na vida real, a capacidade de navegação dependia menos da velocidade máxima e mais da eficiência com que o navio navegava sob diferentes direções do vento.

Navios em Age of Pirates 2: City of Abandoned Ships
Alguns navios eram excelentes com vento de popa; outros, com vento lateral; outros ainda conseguiam navegar bem contra o vento — atingir 35–40 graus era considerado muito bom. Já um navio que não conseguia navegar além de 60 graus ficava em desvantagem em perseguições.
Se dois navios assim estivessem em perseguição, o que navegava melhor contra o vento aproava o vento, afastando-se continuamente do perseguidor.
Navios de guerra costumavam navegar melhor contra o vento do que mercantes — o que os tornava mais eficazes em perseguições.
Essa parte não é muito bem representada em Sea Dogs, mas, no geral, o jogo é belo e muito prazeroso de jogar.
Eu gostaria de jogar um título onde a navegação e as manobras fossem simuladas com ainda mais detalhe — mas isso criaria um simulador naval realista, que talvez não agradasse a todos.
Esperamos que este artigo tenha sido útil!
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