
O material a seguir foi preparado durante o desenvolvimento do jogo de simulação da vida de pirata Corsairs Legacy pelo Mauris studio com o objetivo de popularizar a temática naval em geral e jogos sobre piratas em particular. Você pode acompanhar as notícias do projeto em nosso site, no canal no YouTube e no Telegram.
Neste artigo, Kirill Nazarenko analisa o bordel na série Black Sails.
Olá! O tema de hoje é bem picante. Vamos começar analisando aqueles episódios da série Black Sails que são dedicados à mais antiga das profissões, ou seja, cenas em um bordel e cenas com “damas da noite”. Também vamos tentar considerar a economia desse processo no contexto da economia das ilhas do Caribe no início do século XVIII.
Gostei bastante da própria série Black Sails, visualmente ela causa uma boa impressão, embora os trajes femininos pertençam mais à segunda metade do século XVIII do que à primeira. Mas, de qualquer forma, as roupas masculinas e femininas, em geral, se encaixam no século XVIII, o que está longe de ser comum nas produções cinematográficas.
Lembro que estamos falando do fato de que, nos episódios 4–8, uma tripulação de piratas toma um bordel. Eles matam o dono e depois falsificam uma escritura de compra que supostamente prova que o falecido vendeu o estabelecimento para os corsairs. Mas há aqui alguns pontos bem “forçados”.

Kirill Nazarenko sobre Black Sails. O pirata Rackham com a escritura de compra nas mãos
Em primeiro lugar, o papel que o pirata-corsário Rackham apresenta à cafetina desse bordel na série Black Sails não é uma escritura de compra nem pela forma externa.
Documentos jurídicos no século XVIII eram redigidos em folhas de papel bastante grandes, cujo formato se aproximava do A3, se não mais. Portanto, um papelzinho no formato A5 dificilmente poderia ser considerado uma escritura séria.
Além disso, havia um grande problema com essa escritura — tais documentos tinham de ser certificados por alguma instância legal. No Reino Unido, isso podia ser feito por juízes de paz ou notários; na Europa continental, por advogados; na Rússia, por órgãos estatais. Em qualquer caso, a escritura de compra precisava de certificação oficial.
É claro que podemos supor que os corsairs da série “Black Sails” tenham encontrado algum notário de reputação duvidosa que os ajudou a falsificar o documento. Mas, nas pequenas cidades caribenhas, a população era reduzida e todos se conheciam, então inventar um “notário inexistente” seria praticamente impossível.
Além disso, tenho dúvidas em relação à percentagem de participação. A cafetina diz que recebia 3% do antigo proprietário do estabelecimento, o que é muito pouco. Já os 40% que Rackham promete representam uma participação bem mais realista.
Falando ainda dos preços nesse estabelecimento na série “Black Sails”, uma das garotas afirma que atendeu um cliente por 5 piastras, e outra a acusa dizendo que o preço correto desse serviço seria 20 piastras, então a primeira ou escondeu parte do dinheiro ou, por bondade, não cobrou o valor completo. Vamos primeiro entender o que são piastras.

Kirill Nazarenko sobre Black Sails. Piastras
Piastras são táleres – um nome amplamente usado no sul da Europa e na Turquia, então o nome real dessa moeda é táler. Os táleres começaram a ser cunhados no fim do século XV e início do século XVI, na região da atual República Tcheca. O nome vem de “Joachimstal”, isto é, o vale de São Joaquim (ou de São Jáchim); “joachimsthaler” significa literalmente “moeda do vale de São Joaquim”.
O dólar moderno não é nada mais do que um táler com o nome ligeiramente modificado. Essa moeda pesava bastante – cerca de 27 g de prata pura – e o diâmetro era de cerca de 5 cm, ou seja, era uma moeda grande e espessa. As piastras eram bonitas: em geral, o perfil do rei era representado no anverso. A arte da medalhística nos séculos XVI–XVII estava em seu auge, e, para os monarcas, colocar o próprio retrato numa moeda era um importantíssimo meio de propaganda.
Na época em que não havia internet, televisão, rádio nem jornais, as pessoas ficavam sabendo quem governava o país por duas vias principais: decretos pendurados na praça central ou lidos por arautos, mas a principal fonte de informação sobre o soberano era a moeda.
Ou seja, qualquer pessoa que pegasse aquela moeda de prata na mão entendia com clareza que tal ou tal rei governava o país – seu retrato estava ali, e seu nome aparecia escrito em volta. No reverso do táler podiam aparecer imagens diferentes, mas, muitas vezes, o valor nominal nem sequer era indicado até o século XVIII, pois o tamanho e o material da moeda já eram bastante característicos.
Aliás, o fato de que, na Inglaterra moderna, ainda existam moedas de diferentes formatos se deve justamente a isso: durante muito tempo, o formato era um dos principais sinais do valor nominal, já que o número não era gravado na moeda. Como não havia indicação de valor no táler, a mesma moeda recebia nomes diferentes. Na Rússia, chamavam-na de “Yefimok”; na França, podia ser “Écu”; na Espanha – “Escudo”.
O próprio táler era uma moeda de grande valor, e, para ter uma ideia do poder de compra, basta alguns números. Digamos que um soldado no século XVII recebia 12 táleres por ano. É claro que se tratava de uma patente baixa e, além disso, o soldado recebia uniforme, comida e alojamento em quartéis ou alojamentos, o que também precisava ser considerado. Ainda assim, 12 táleres anuais era o seu rendimento monetário.
Se considerarmos o salário de um oficial, um oficial subalterno podia receber até 300 táleres por ano, ou seja, cerca de 25 táleres por mês. Com essa renda, seria possível ir a uma “mulher de vida fácil” uma vez por mês pagando 5 táleres por sessão, mas 20 táleres por um encontro é um valor simplesmente absurdo.

Kirill Nazarenko sobre Black Sails. A cena no bordel
Se uma sessão custasse 20 táleres e se as garotas ficassem com pelo menos 25% do que ganhavam from the corsairs' money, isso significaria que, por um cliente, elas receberiam 5 táleres. Então estaríamos falando de um homem extremamente rico. É possível que existissem prostitutas desse nível, mas elas eram chamadas de outra forma – provavelmente, eram amantes de aristocratas ou grandes comerciantes.
Se olharmos para outras profissões, por exemplo, um marinheiro no Reino Unido, na marinha de guerra ou mercante, ganhava 60–80 piastras por ano, mas apenas quando estava em viagem. Se passasse parte do ano em terra, recebia menos. Na França, um marinheiro recebia cerca de 25 táleres por ano, com alimentação incluída.
Se considerarmos a renda de um artesão, digamos, um sapateiro ou alfaiate com uma pequena oficina familiar, sua renda anual poderia chegar a 200–300 táleres, mas ele dificilmente podia gastar tudo consigo mesmo e a família, pois precisava comprar materiais, pagar iluminação na oficina, ferramentas, etc.

Kirill Nazarenko sobre Black Sails. Artesãos e comerciantes do século XVIII
Também podemos observar os preços dos alimentos. Com um táler podia-se comprar um pão branco, cerca de um quilo de toucinho, uma caneca de cerveja, um frango assado, um leitão e ainda sobrava dinheiro para um acompanhamento. Esse conjunto podia alimentar 3–4 pessoas, então um táler era dinheiro sério. Acredito que um táler teria sido mais do que suficiente para pagar os serviços de uma garota, mesmo que ela fosse uma profissional muito requisitada.
Quanto às roupas, era possível vestir completamente um marinheiro profissional com roupas sólidas e de boa qualidade por cerca de 6–7 táleres. Isso incluía camisa, calças, meias, sapatos, chapéu, lenço de pescoço e dois “bastroga”, isto é, dois casacos: um leve de linho por baixo e outro de lã por cima. Seriam roupas novas, resistentes, que serviriam ao dono por mais de um ano.
Se falarmos de roupas de tecido colorido ou de veludo, o preço subia bastante. Um conjunto com casaco, calças e colete de tecido médio poderia custar 20–25 táleres. Já um conjunto de veludo – e o veludo naquela época era feito apenas de fios de seda, custando até 20 vezes mais que o pano comum – poderia chegar a 500 táleres. Só um general, almirante, ministro ou comerciante muito rico poderia se vestir assim.
Aliás, vale lembrar que no início do século XVIII os militares na Europa ainda não tinham uniforme padronizado, então até generais usavam roupas bem variadas. Os almirantes e oficiais navais europeus receberam uniformes ainda mais tarde: se os oficiais do exército de terra passaram a usar uniforme nas décadas de 1710–1720, os oficiais navais só o fizeram entre as décadas de 1750 e 1780.
Assim, no início do século, era difícil distinguir um soberano de um simples marinheiro apenas pela aparência, sendo necessário recorrer a certos detalhes adicionais, como as faixas de oficial, usadas na cintura ou sobre o ombro. Na Inglaterra, uma faixa de seda vermelha era um sinal tão importante que se tornou marca registrada dos oficiais.

Kirill Nazarenko sobre Black Sails. Roupas de oficiais e a faixa de oficial
Um soldado podia ser identificado pelo equipamento. Se carregasse uma bolsa de cartuchos e uma espada na cintura e segurasse um mosquete com baioneta nas mãos, ficava claro que se tratava de um militar.
Não há por que se surpreender: até o início do século XVIII, qualquer confronto entre grupos armados começava com uma tentativa de chamar o outro lado e descobrir de que lado ele estava. Por isso, em cada exército existia um grito de guerra, uma espécie de “senha”. Essa palavra funcionava como código de reconhecimento para que os sentinelas entendessem que a pessoa era “aliada”.
Mas já me afastei bastante do assunto mais “frívolo” com o qual começamos. Gosto do fato de que o bordel em Black Sails seja mostrado como uma típica casa do sul, com um pátio interno aberto e uma galeria de madeira levando ao segundo andar. Naquela época, nas Caraíbas, uma residência urbana de porte maior costumava ser assim: todos os quartos davam para o pátio, a entrada vinha da rua diretamente para esse pátio, e a parede externa da casa podia ser praticamente cega.
Dessa forma, resolviam-se vários problemas ao mesmo tempo: a casa ficava protegida do calor e dos raios solares, e, ao trancar o portão que dava acesso ao pátio, era possível se esconder de estranhos. Esse tipo de casa apareceu ainda na Grécia antiga e sobreviveu até hoje na Espanha, no interior da Itália e em Portugal. É muito agradável ver que os cenógrafos construíram esse pátio e que os autores da série o utilizaram de forma competente.

Kirill Nazarenko sobre Black Sails. Pátio externo com galeria de madeira
No que diz respeito ao mobiliário e ao estilo geral desse bordel na série Black Sails, vemos uma mistura de épocas. Por exemplo, os guarda-chuvas rosa-choque com muitas hastes, que aparecem no oitavo episódio, são sombrinhas chinesas ou japonesas que só entraram na moda na segunda metade do século XIX. Elas dificilmente poderiam existir no século XVIII.
Por outro lado, as pequenas mesas de mármore com base de metal em que se sentam os clientes também parecem ser da segunda metade do século XIX. Na minha opinião, no século XIX – principalmente no início – na região caribenha, que era uma profunda província, mesas de madeira pareceriam muito mais orgânicas. Tudo isso junto cria um quadro interessante, mas anacrônico.
Aliás, vale notar um detalhe muito preciso em Black Sails: a garota que se justifica por ter ganho apenas 5 piastras, e não 20, jura “pelo corpo do Senhor” – ela é claramente católica. Trata-se de um juramento tipicamente católico, pois a própria festa do “Corpo do Senhor” (Corpus Christi) foi introduzida pelos papas no século XVI, em plena Reforma, como uma das medidas para reforçar a Igreja Católica. Um protestante jamais juraria “pelo corpo do Senhor”.
É claro que, naquela época, na Europa, havia muitas regiões mistas de católicos e protestantes, até em países que hoje voltaram a ser majoritariamente católicos, como Hungria ou Polônia. Nos séculos XVI e início do XVII, o número de protestantes era bem elevado, e, na Boêmia (atual Tchéquia), eles eram até maioria. No fim, porém, a Igreja Católica conseguiu recuperar essas posições.
No caso da Grã-Bretanha, travava-se uma luta contra os católicos, mas eles continuavam presentes na sociedade britânica. Na Irlanda, eram maioria. Mesmo na Holanda, considerada um baluarte do protestantismo, a minoria católica continuou existindo. Em países como Espanha, Portugal e Itália, a vida para um protestante era praticamente impossível – medidas severas eram adotadas contra eles. Como a ação da história se passa em Nassau, que era uma possessão holandesa, os católicos ainda podiam “respirar” ali, e uma das jovens do bordel é claramente católica.
A presença de mulheres nesse bordel de Black Sails com tons de pele diferentes também é curiosa, pois vemos que os autores tentam introduzir uma ideia de “igualdade” entre pessoas de origens diversas entre as funcionárias do estabelecimento.

Kirill Nazarenko sobre Black Sails. Garota negra
Ainda assim, creio que a qualidade do “contingente” que trabalha nesse bordel é claramente exagerada. Todas as damas são jovens e muito bonitas, mas, na realidade, para o olhar moderno, provavelmente seriam bem menos atraentes. Além disso, os padrões de beleza feminina mudaram profundamente.
O ideal moderno surgiu bem tarde, após a Segunda Guerra Mundial. No século XVIII, acreditava-se que a mulher bonita devia ser farta, forte, de presença imponente.

Kirill Nazarenko sobre Black Sails. Ideal de beleza feminina no século XVIII
Naquele tempo, a pele muito branca era extremamente valorizada, e o menor bronzeado era percebido como sinal de origem humilde; pessoas de pele escura saíam em desvantagem. O guarda-chuva como acessório feminino surgiu justamente porque se considerava tomar sol algo indesejável e até prejudicial. A brancura da pele era muito prezada; assim, nesse sentido, as jovens negras perderiam claramente em status. Elas até poderiam trabalhar em um bordel, mas em posições muito inferiores e com serviços bem mais baratos.
Nesse ponto, a série Black Sails inevitavelmente “peca”, assim como na questão das barbas nos homens e da aparência dos corsairs. Já comentei que a barba, no início do século XVIII, era praticamente impensável para um homem, e, no entanto, muitos heróis da série ostentam barbas bem cheias.
Além disso, corte de cabelo curto para homens também era algo praticamente inexistente. Somente quem usava perucas ou gorros o tempo todo podia raspar a cabeça ou manter o cabelo bem curto. No começo do século XVIII, um sinal de beleza e saúde masculina eram cabelos compridos. Diz-se que Luís XIV “inventou” a peruca porque começou a ficar careca, e a calvície era vista como um problema extremamente desagradável, que precisava ser cuidadosamente disfarçado.
Agora vejamos em que ambiente esses grandes estabelecimentos funcionavam na série Black Sails, de onde partimos. Esses locais existiam, naturalmente, nas cidades, mas as cidades caribenhas eram pequenas.
Port Royal, na Jamaica, que era a capital das possessões britânicas, teve, em seu auge, na década de 1680, cerca de 5.000 habitantes. Havia por volta de 1.000 casas, e boa parte da população era composta pelo garnizão.
Artesãos também constituíam uma fração significativa dos habitantes, já que não havia produção industrial, e absolutamente tudo – roupas, sapatos, utensílios domésticos, arreios, armas – era produzido por algum artesão. Os tecidos eram trazidos da Europa.
Em geral, as roupas dos europeus eram feitas de linho e tecido de lã. A algodão já havia chegado à Europa, mas era muito caro, e o desenvolvimento do arquipélago caribenho foi um dos fatores que baratearam o algodão. Ele começou a ser cultivado ali, e, ao longo do século XVIII, tecidos de algodão entraram em uso cada vez mais amplo.
No início do século, porém, usava-se principalmente linho. Tecidos finos podiam ser tecidos a partir dele, mas o linho em si crescia sobretudo na Europa. O mesmo acontecia com o pano (cloth) de lã. Nas ilhas do Caribe, a criação de ovelhas não era muito desenvolvida, então os tecidos tinham de ser importados, mas as roupas eram costuradas localmente. Por isso, alfaiates e sapateiros eram indispensáveis.
Todos esses eram pessoas relativamente pobres, porque, no início do século XVIII, o trabalho manual era extremamente desvalorizado. Ao comprar um item – roupas, sapatos, armas ou móveis – cerca de 90% do preço correspondia ao custo do material, e apenas 10% ao trabalho do artesão. Havia exceções, como joias, em que o trabalho poderia representar um pouco mais, mas, em compensação, o próprio material – ouro, pedras preciosas – era muito caro, e mesmo o trabalho de um ourives da corte dificilmente ultrapassava esses 10% do valor total.
Mais uma vez, enfatizo que aqueles que trabalhavam com as mãos ocupavam, na mentalidade das pessoas do século XVIII, uma posição social muito baixa. “Nobre” era apenas quem não trabalhava fisicamente. Nesse sentido, os corsairs, apesar de sua origem humilde, podiam se considerar quase nobres, porque não produziam nada com as próprias mãos – viviam do saque.

Kirill Nazarenko sobre Black Sails. Capitão Flint, John Silver e outros piratas
Em alguns círculos, até o comércio era considerado uma ocupação vergonhosa para um fidalgo na Espanha, por exemplo. Na Inglaterra, porém, as visões sobre isso já estavam mudando. Na França, a nobreza ainda preferia servir ao rei em vez de se dedicar ao comércio ou administrar diretamente suas propriedades.
Se falarmos dos fluxos reais de dinheiro que passavam pelo Caribe, obviamente eles não iam para os bolsos dos artesãos e pequenos comerciantes das cidades. As mercadorias mais valiosas produzidas pelo Caribe eram açúcar, café e índigo (um corante azul extraído de plantas).
Tudo isso era produzido em plantations que se espalhavam fora das cidades. Nessas plantations trabalhavam escravos negros trazidos da África, pertencentes a pessoas realmente ricas. Ao mesmo tempo, os navios mercantes navegavam em uma rota triangular, chamada justamente de “comércio triangular”: da Europa para a África; na África, compravam-se escravos; em seguida, eles eram levados ao Caribe e vendidos; em troca, os comerciantes adquiriam açúcar, café, índigo e cacau, que eram transportados de volta para a Europa e vendidos. O ciclo se repetia.
Ao mesmo tempo, as mercadorias trazidas da Europa para o Caribe eram bastante caras, pois os navios tinham de ir até a África, depois passar pelas Canárias e só então seguir para o Caribe, muitas vezes ainda carregados. Os custos de transporte de qualquer bem europeu eram elevados.
Curiosamente, se olharmos para as proezas dos corsairs, é muito raro lermos ou ouvirmos que os piratas capturaram um navio carregado de escravos. Escravos eram um “produto perecível” e precisavam ser vendidos em locais específicos e com rapidez. Isso exigia uma rede comercial muito bem organizada.
Naturalmente, era difícil para os corsairs vender esse tipo de “mercadoria”. E, se você pensa que os negreiros pegavam os africanos infelizes diretamente nas praias da África, está muito enganado. No início do século XVIII, a costa oeste africana estava inteiramente sob o controle de grandes estados africanos fortes, criados por tribos costeiras que transformaram o comércio de escravos em um setor importante da economia.

Kirill Nazarenko sobre Black Sails. Mapa do século XVIII da costa oeste da África
Também não se deve imaginar que em Dahomey fosse possível comprar escravos por um punhado de contas. Nada disso. Os dahomeanos queriam mosquetes, pólvora e ferro, pois estavam construindo um exército forte, consolidando um estado poderoso e usando escravos como “moeda”. É claro que eles não vendiam seus compatriotas, mas prisioneiros capturados em guerras. Esses estados organizavam expedições para o interior das florestas tropicais contra tribos consideradas mais “primitivas”; os cativos eram então vendidos aos traficantes de escravos. Essa situação se manteve até o fim do século XVIII.
Somente no século XIX os europeus começaram a ocupar efetivamente os litorais africanos. Antes disso, possuíam apenas feitorias costeiras, que existiam em grande parte graças a bons contatos e relações amistosas com governantes africanos, que viam vantagem clara na presença de comerciantes europeus em seu território.
Voltemos agora ao mar do Caribe e ao agradável pátio que nos é mostrado em vários episódios de Black Sails. Vejamos o que os visitantes de um lugar tão animado poderiam comer. Em teoria, podia-se comprar qualquer tipo de vinho ou comida vinda da Europa, mas a questão é: com que dinheiro?
Se falarmos de reuniões mais econômicas à mesa, o álcool mais acessível seria o rum. O rum se tornou o cartão de visita do arquipélago caribenho. Era feito da cana-de-açúcar, mais precisamente do suco extraído de seus colmos. O suco fermentava e podia ser consumido como uma bebida alcoólica fraca, mas também podia ser destilado, resultando numa bebida com teor alcoólico de 25–30 graus e sabor bastante agradável. Até hoje, o Brasil e as Ilhas Canárias produzem rum de mel.
No arquipélago caribenho havia bastante carne, pois a população era relativamente pequena, e você deve se lembrar que os primeiros colonos, os bucaneiros, caçavam bois na ilha de Hispaniola (Haiti).
Os espanhóis não gostavam disso e começaram a perseguir os bucaneiros, que depois se tornaram corsairs. Havia muita carne, mas ela geralmente era defumada ou salgada, porque não se conheciam muitos métodos de conservação a longo prazo. Carne fresca, naturalmente, era mais cara.

Kirill Nazarenko sobre Black Sails. Preparação de carne no Caribe
Quanto ao pão, ele era caro no arquipélago caribenho, porque o trigo não era cultivado ali, e os europeus já estavam acostumados ao pão branco. Pão preto era consumido apenas no leste e no norte da Europa. O grão chegava ao Caribe vindo da Europa, pelo menos no começo do século XVIII.
Uma opção mais barata eram as tortilhas de arroz, já que o arroz passou a ser cultivado nas ilhas principalmente para alimentar a população local. Com o mingau de aveia a situação era semelhante à do trigo.
A aveia, o cereal mais barato, era o alimento cotidiano dos cristãos mais pobres da Europa, mas, quando levada para a América, tornou-se cara e mais difícil de conseguir do que no Velho Mundo. De qualquer forma, poderíamos contar com carne e rum por um preço relativamente baixo, e, se tivéssemos mais dinheiro no bolso, poderíamos pedir algo mais elaborado.
As colônias espanholas eram mais “civilizadas”. Em Cuba, por exemplo, já existia uma população relativamente densa e uma economia mais desenvolvida. No século XVIII, os espanhóis em Cuba começaram a desenvolver estaleiros militares. Muitos navios de guerra espanhóis do século XVIII foram construídos ali.
As colônias de outros países europeus não podiam se gabar de algo parecido com indústria. A base era a economia de plantation. Mas isso era um negócio extremamente lucrativo. Por exemplo, em meados do século XVIII, um terço da receita do tesouro francês vinha da ilha de Guadalupe, com suas plantações de açúcar e café. Não é de se estranhar que os corsairs mirassem justamente nesses fluxos comerciais. Ao mesmo tempo, a pequena população das cidades caribenhas provavelmente olhava com simpatia para os piratas, especialmente se não fossem cidades espanholas, mas sim inglesas, francesas ou holandesas. Elas frequentemente se beneficiavam da presença dos piratas, porque eram nesses portos que os piratas “torravam” seu dinheiro. Poucos corsairs conseguiam capturar o suficiente para voltar à Europa e viver de renda.
Portanto, se nós desembarcássemos de um navio de corsairs, com 20–30 piastras no bolso depois de dividir o último saque, com certeza seríamos recebidos de braços abertos. Poderíamos nos divertir por algumas semanas, visitar lugares “especiais”, comprar roupas novas. Depois, porém, viriam novamente os dias de trabalho, e teríamos de voltar ao mar para assaltar os próximos navios mercantes.
Esperamos que você tenha achado este artigo útil!
Saiba mais sobre o projeto Corsairs Legacy - Historical Pirate RPG Simulator e adicione o jogo à sua lista de desejos na página do Steam.












